CAROLINE LANHI

Luís Justino Messias, 33 anos, estudante de sistemas de informação, está na fila do Sistema Nacional de Empregos (Sine) em busca de uma vaga no mercado de trabalho. Há pouco tempo de terminar a graduação, Luís está seguro da profissão escolhida e quer adquirir experiência até se formar, por isso procurou o banco de empregos e tenta uma vaga de auxiliar administrativo. Mas nem sempre o estudante foi tão determinado e confiante.

Quando criança ele teve paralisia infantil, o que comprometeu o movimento dos membros inferiores. Mais de duas décadas se passaram até Luís perceber que ele poderia ser independente, estudar, trabalhar e formar uma família. “Eu estava com 26 anos e sem nenhuma experiência. Aí não quis mais essa vida e resolvi correr atrás do prejuízo”. Nesta quinta-feira (29) ele foi até o Sine de Cuiabá aproveitar o Dia “D” de inclusão social e profissional das pessoas com deficiência e beneficiários reabilitados. Ele disputa uma das 228 vagas, em 24 empresas, oferecidas a esse público. Dependendo da função e da qualificação, os salários podem chegar a R$ 6 mil. O Dia “D”, que já era realizado em Mato Grosso, agora acontece simultaneamente em todo o país.

Além do banco de vagas, o sistema também oferece inscrições para Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) – Viver sem limite, que oferece educação profissional e tecnológica. A ideia de voltar para a sala de aula atraiu Isaías Pereira Brandão, 24 anos, que busca emprego e qualificação. Há 10 anos ele foi vítima de um tiro que o deixou paraplégico. Depois de terminar o Ensino Médio fez um curso técnico de auxiliar administrativo. Com as oportunidades oferecidas pelo Sine, Isaías chegou cedo ao Dia “D”, pegou uma carta para trabalhar de atendente em uma concessionária e seguiu para as próximas etapas da seleção. “Essa iniciativa é muito interessante, pois mostra para as pessoas com deficiência que elas são capazes”, avalia.

Desafios – A secretária-adjunta de Trabalho e Emprego da Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social (Setas), Vanessa Rosin Figueiredo, destaca que o trabalho pela inclusão de pessoas com deficiência é uma força-tarefa que demanda sensibilizar tanto o empregador quanto o candidato à vaga. “É um trabalho de mobilização. O Estado faz o meio de campo para conscientizar o empresário e também qualificar a mão de obra”, explica.

Segundo Vanessa, em muitos casos a pessoa com deficiência teme entrar no mercado do trabalho e perder permanentemente o Benefício da Prestação Continuada (BPC) – salário mínimo destinado a pessoas com deficiência que comprovem não ter meio de se sustentar. A maior parte não sabe que desde 2011 a assistência não é cancelada, mas apenas suspensa durante o período que a pessoa estiver empregada. Caso o trabalhador fique desempregado o pagamento BPC volta a ser feito.

Para a presidente da Associação Mato-grossense de Deficientes (Amde-MT), Mariley Auxiliadora de Jesus, a ação focada na inclusão desse público no mercado de trabalho é mais um passo à frente. “Lutamos para que a pessoa com deficiência deixe de ser beneficiário. Todo mundo quer ser um trabalhador, produzir seu próprio sustento, criar uma família”, destaca. Mariley defende que essa transformação tem de começar dentro de casa, pois muitos familiares têm medo que a pessoa com deficiência sofra ao sair para estudar e trabalhar. Luís Justino sentiu muito essa superproteção, principalmente por parte dos pais. Hoje, sente-se orgulhoso de ter quebrado esta barreira e enfrentado os desafios. “Sou o único filho que fez um curso superior”, conta.

O processo de inclusão da pessoa com deficiência também exige transformações dentro da empresa contratante. Isaías Pereira, que depende da cadeira de rodas para se locomover, lembra que em alguns casos o empregador oferece a vaga, mas não oferece acessibilidade para o funcionário contratado, como rampas e mobiliário adequado. Pensando nesses e em outros desafios, o Sine juntamente com seus parceiros ainda oferecem serviço de consultoria e palestras às empresas para auxiliá-las neste processo.

 Quem não participou do Dia “D” não precisa se preocupar. O processo de preenchimento das vagas continua, basta comparecer ao Sine-MT, de segunda à sexta-feira, das 7h30 às 17h, com documentos pessoais e comprovante de escolaridade para fazer o cadastro e se candidatar a uma vaga.