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por Nayara Cristina

Cuiabá/São Paulo – A Polícia Federal, em cooperação com a Europol e a Garda National Protective Services Bureau da Irlanda, deflagrou nesta quarta-feira (3) a Operação Cassandra, que atingiu Mato Grosso e outros cinco estados brasileiros — Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Minas Gerais. O objetivo foi desarticular uma organização criminosa transnacional envolvida no tráfico internacional de pessoas para fins de exploração sexual.

Em Cuiabá, agentes federais cumpriram mandados de busca e apreensão em endereços ligados aos investigados. Segundo a PF, o estado desempenhava papel de apoio logístico e financeiro ao grupo, funcionando como um dos pontos de base para movimentação ilícita e produção de documentos. A ofensiva no Brasil mobilizou cerca de 120 policiais federais e sete servidores da Receita Federal, resultando no cumprimento de cinco mandados de prisão preventiva, 30 de busca e apreensão e 13 medidas restritivas de direitos.

A operação foi realizada de forma simultânea com a ação das autoridades irlandesas, batizada de Operação Rhyolite. Desde 2017, a investigação vinha monitorando a atuação da rede, que aliciava mulheres no Brasil com promessas falsas de emprego e estudo. Elas eram enviadas com documentos adulterados para países como Irlanda, Reino Unido, Nova Zelândia, Croácia, Grécia, Israel, Singapura, Arábia Saudita e África do Sul. No exterior, as vítimas eram submetidas à exploração sexual sob rígido controle do grupo.

O esquema possuía uma engrenagem financeira sofisticada. Além de sites e plataformas digitais usados para agendamento e oferta de serviços, os criminosos movimentavam até R$ 700 mil por mês, o que representa aproximadamente R$ 5 milhões por ano. O dinheiro era lavado por meio de empresas de fachada, imóveis e criptoativos, dificultando o rastreio pelas autoridades.

As investigações já identificaram mais de 70 mulheres vítimas do esquema. De acordo com a Polícia Federal, elas eram mantidas sob manipulação psicológica, obrigadas a entregar todo o dinheiro obtido e impedidas de sair da rede. Os suspeitos poderão responder por tráfico internacional de pessoas para exploração sexual, organização criminosa, rufianismo, lavagem de dinheiro, falsidade documental, crimes contra o sistema financeiro nacional e infrações tributárias.

A Operação Cassandra mostra como a cooperação internacional é fundamental no combate ao tráfico humano. Ao incluir Mato Grosso entre os alvos principais, a ação evidencia que o estado fazia parte de uma estrutura criminosa de alcance global, agora parcialmente desmantelada pelas autoridades brasileiras e irlandesas.